Ócio

Música : Versão x Original

Conversando um dia com meu pai, ele me disse que um amigo andava decepcionado com Chico Buarque porque descobriu que uma de ‘suas’ músicas – ‘Yolanda’ – na verdade não era dele.

Meu pai, que sempre soube disso, até comentou com seu amigo de que Chico nunca tinham escondido isso de ninguém. Tanto é que houve até uma apresentação de Chico , gravada pela Globo , onde eles convidaram o autor da música, Pablo Milanés.

Mas a verdade é que a indústria da música, muitas vezes, não faz questão de expor tanto a verdade. Deixar claro que uma música é uma versão e não uma obra original, pode resultar em vender menos, e isso, em qualquer tipo de mercado no capitalismo do século XX, não é o que se busca(va). As gravadoras no século passado se aproveitaram muito de identificar um sucesso em um país, e de forma relativamente mais barata ‘copiar e colar’ a música em outro mercado.

Por essas e outras comentei com o meu pai que desde quando comecei a falar espanhol e conhecer pessoas de todos os outros países da América Latina, que falam espanhol, acabei aprendendo duas coisas sobre brasileiros x música.

Primeiro, que nós brasileiros, apesar possuirmos uma diversidade musical imensa, devido a nossa cultura, nos isolamos de uma forma radical desnecessária em relação a música em espanhol. Consumimos muita música em inglês e pouquíssima em espanhol, o que no meu ver hoje em dia, não tem muito sentido. Muito disso deve-se ao preconceito que temos em não nos considerarmos latino americano, ou pelo menos uma ‘espécie diferente de latino americano’.

E segundo, que conhecendo novos estilos, grupos, cantores e compositores de outros países latino americanos (e Espanha), aprendi, de uma forma meio ‘bruta’, que muitos ‘sucessos’ brasileiros na verdade foram versões criadas de músicas originais em espanhol, inglês, italiano e por aí vai.

Lembro bem do dia em que comecei a ‘descobrir’ esse mundo. Foi em Barcelona , fazendo um esquenta com amigos argentinos em casa, escutando músicas no youtube e um deles colocou um clássico argentino que se chamava ‘Música ligera’, e na hora eu falei : ‘Argentino é foda né, copiaram até música brasileira’ . Para que fui falar isso, aprendi ali, naquele momento, que tinha a necessidade de rever minha humildade se quisesse continuar aprendendo sobre a vida, sobre o mundo e sobre a música.

Quando comentei tudo isso com meu pai, ele me sugeriu que fizessemos uma lista para que ele pudesse enviar ao seu amigo que andava decepcionado com Chico. Dessa forma, ele poderia entender que isso é uma prática relativamente comum no meio artístico musical, e talvez, ‘desculpasse’ o pobre Chico Buarque.

Vale ressaltar que tenho total respeito por versões de músicas, porém como compositor, gosto também de buscar a origem de uma obra. Sei o difícil que é compor uma música. Tem música que fiz em 30 minutos, porém só depois de sentir e viver algo durante anos. Em outras ocasiões por exemplo, tenho que chegar ao meu limite da empatia para poder assim tentar descrever um sentimento alheio, ou em outro caso mais específico por exemplo, demorar até 13 anos em terminar de escrever uma música (‘Escravo do mundo’ é uma música que comecei a compor aos 19 anos e só fui capaz de concluir aos 32).

Confesso duas coisas.

1º – Até eu, depois de ver todos os vídeos, mesmo tentando não sentir isso, acabei ficando meio decepcionado com alguns artistas. Mamonas Assassinas e Sidney Magal foi um golpe baixíssimo da indústria musical…rs.

2º – Definitivamente o artista quando é bom mesmo consegue pegar uma obra original e transformar a sua versão em algo ainda melhor. É como a história do discípulo que supera o mestre. Alguns exemplos na minha opinião seriam : Elis Regina – Fascinação e Marisa Monte – Bem que se quis.

Assim que segue a lista de ‘versão x original’ que preparei. Será que voce sabia que todas essas músicas eram versões?

1 – Capital Inicial – A sua maneira / Soda Stereo – Musica ligera

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2 – Sidney Magal – Meu sangue ferve por voce / Sabú – Oh, Cuanto te amo

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3 – Paralamas do sucesso  – Trac Trac / Fito Paez – Track Track

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4 – Fagner – Borbulhas de amor / Juan Luis Guerra – Burbujas de amor

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5 – Nenhum de nós – Astronauta de mármore / David Bowie – Starman

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6 – Fat Family – Jeito Sexy / Diana King – Shy guy

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7 – Mamonas Assassinas – Vira Vira / Roberto Leal – Arrebita

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8 – Engenheiros do Hawaii – Era um garoto que como eu / Gianni Morandi – C’era un regazzo

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9 – Zelia Duncan – Catedral / Tanita Tikaram – Cathedral

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10 – Roberto Carlos – O Calhambeque / John e Gwen Loudermilk – Road Hog

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11 – Marisa Monte – Bem que se quis / Pino Daniele – E po’ che fa’

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12 – Titãs – Marvin / Clarence Carter – Patcher

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13 – Elis Regina – Fascinação / Fermo Dante Marchetti e Maurice de Feraudy (versão Nat King Cole) – Fascination

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14 – Zeze di Camargo e Luciano – Eu te amo / Beatles – And I Love her

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15 – Skank – Tanto / Bob Dylan – I want you

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16 – Capital Inicial – O passageiro / Iggy Pop – Passenger

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17 – Roberto Carlos – Lobo mau / Dion and The Belmonts – The Wanderer

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E para encerrar e deixar claro que isso é prática comum no mundo inteiro, deixo aqui um dos maiores clássicos da música e que muitos não sabem, que na verdade, é uma versão de uma música francesa. E se quiser saber mais sobre a história do autor dessa obra, recomendo um filme sobre sua vida que se chama CloClo.

Frank Sinatra – My way / Claude François – Comme d’habitude

Versão :

Original :

 

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